#RefazendoSonhos estreia peça na Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente em Simões Filho

 
 
 

Verônica Silva encena a personagem Luana, vítima de exploração sexual. Natália Santos e Raiana Góes, atuando como “Camila” (irmã do bebê vítima de violência sexual) e Ana (a professora). Em destaque, Miguel (Gabriel Guarniere) e Michael (Blendo Santos), ao fundo, atores Mayara Silva, Vanessa Santos e Thairon Carvalho, em cena do suicídio de “Luana”. Maria Eduarda França (Isabela) e Natália Santos (Dona Isaura) encenando uma discussão entre mãe e filha. Os atores, emocionados, se abraçam em comemoração pelo sucesso da estreia.

O Núcleo de Teatro Sonhos em Movimento, do projeto #RefazendoSonhos, implementado pelo Instituto Aliança (IA), estreou no último dia 31 de outubro a peça Até quando?, que traz uma reflexão sobre o enfrentamento às violências que atingem crianças e adolescentes, com ênfase na violência sexual. O lançamento ocorreu no auditório da Secretaria de Desenvolvimento Social, da Mulher e da Cidadania (SEDESC), em Simões Filho, Bahia, e integrou a programação da X Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 

Estiveram presentes no evento, além de integrantes da rede de proteção do município, delegados inscritos, escolhidos dos diversos segmentos - incluindo adolescentes do projeto -, para discutirem propostas de enfrentamento das violências. Este ano, o tema da Conferência foi Proteção Integral, Diversidade e Enfrentamento das Violências. A peça de teatro estreada pelo grupo dialogou diretamente com todas estas discussões.

 

Natália Santos, em cena emocionante da mãe que busca por sua filha desaparecida, ao lado de Raiana Góes (a professora Ana) e Angela (a Conselheira Tutelar).

 

Isabela (Maria Eduarda França) tenta desistir da viagem de cruzeiro e é duramente reprimida pelo aliciador Jhonny (Hebert Paixão).

George Vladmir, diretor teatral que acompanhou o grupo, revelou um pouco da sua vivência ao trabalhar na perspectiva do enfrentamento das violações de direitos. “A experiência como professor/diretor de teatro é uma das mais significativas da minha carreira. Ter me debruçado com estes adolescentes sobre um tema tão doloroso e ao mesmo tempo tão urgente e necessário foi muito importante, pois só reforçou em mim a vontade de levar adiante essa bandeira, essa proposta de teatro de protesto, de teatro de denúncia”, explicou Vladmir, que também apontou aspectos ligados ao seu crescimento pessoal ao desenvolver o trabalho. “Do ponto de vista humano, foi mais gratificante ainda. O contato com este grupo me ensinou tanto, as experiências de vida, o carinho, o afeto, a entrega, a confiança, foi tudo muito importante. Eles me motivaram a tocar nesse assunto, a tocar nessas feridas, a revelar essas mazelas muitas vezes escondidas, para que elas não voltem a se repetir e para que a gente possa problematizar essa questão na sociedade. O olhar de esperança no futuro, a força e a vontade de viver destes adolescentes foram o meu maior combustível em todo este processo, que culminou na peça Até quando?”, concluiu o diretor.

 
Camila, a personagem de Natália Santos, tenta alertar sua mãe Dona Isaura (Mayara Silva) sobre o abuso sofrido por sua irmãzinha, “Clara”.  

Matheus Damasceno, Blendo dos Santos e Juliane Rodrigues encenam uma história de abuso sexual.


Já a adolescente Natália Santos da Silva, 15 anos, fez questão de revelar a grandeza das aprendizagens adquiridas com sua participação no núcleo de teatro: “Trabalhar com teatro é uma experiência encantadora, pois podemos nos expressar de uma forma livre e descobrir nossos talentos. O teatro nos faz entender que a vida é muito mais do que aquilo que podemos ver, nos proporcionou estabelecer metas, objetivos e até mesmo a aprender a arriscar tudo sem medo de perder nada. O teatro faz a alma ser livre e faz o sentimento falar.  Abordar um tema tão forte assim, que é a violência sexual, nos faz olhar para nossa cidade com um olhar crítico, com um olhar construtivo, nos faz querer transformar nossa cidade em um lugar melhor e ajudar muitas pessoas a voltarem a sonhar”.

Sonhos em movimento – Para Ilma Oliveira, a peça de teatro é uma grande colaboração para garantir que o debate sobre o enfrentamento da violência sexual se expanda para os mais diversos espaços da cidade onde a circulação de crianças e adolescentes é grande e a necessidade de orientação é escassa. “É muito emocionante perceber o quanto estes meninos e meninas amadureceram no processo de construção da peça. A arte tem este poder de reelaborar realidades e alimentar esperanças. Nosso compromisso com o município está ligado à redução de violência sexual e à quebra do pacto do silêncio que diariamente naturaliza situações absurdas. Fico muito feliz de entregarmos à Simões Filho, hoje, essa poderosa ferramenta cênica que em muito ajudará na luta pela desnaturalização de tantas violações”, ressaltou Ilma. As perspectivas para que essa expansão aconteça são grandes: a agenda do núcleo Sonhos em movimento só cresce. Uma lista com mais de 20 escolas municipais foi criada, a partir de convites de professores, diretores e estudantes. A demanda foi gerada pela comunidade escolar.




 
Matheus Damasceno encarna um dos abusadores de “Luana” (Verônica Silva).  

Hebert Paixão e Maria Eduarda França em cena acerca do tráfico humano para fins sexuais.

 
Os adolescentes Blendo Santos e Raiana Góes em atuação.  

Vânia (Irilene Souza) atua como a mãe que explora sexualmente sua filha Luana (Verônica Silva); ao lado delas, o homem que comete os abusos, Walter (Matheus Damasceno).

 
O diretor George Vladmir, em agradecimento aos atores, esclarece ao público o objetivo do trabalho e a importância do debate sobre o tema da violência sexual.  

A equipe de educadores parabeniza os adolescentes pelo trabalho e pelo sucesso do espetáculo.

O impacto de todo este exercício de arte e conhecimento não se encerra nos palcos, tampouco nas pessoas que chegam até os espetáculos. A peça, que emociona e provoca tantos públicos, alcança também a família. E nelas, pequenas revoluções começam a acontecer. “Meu filho, o Blendo Santos, mudou bastante depois que entrou no núcleo de teatro. Ele realmente melhorou muito, pois hoje está conversando melhor, tratando as pessoas melhor. Eu percebo que tudo isto fez muito bem para ele, e se ele está bem, está bem para mim também.  Na peça, ele faz a personagem de uma criança de 11 anos que é abusada pelo padrasto, mas tem medo de contar tudo à sua mãe, medo de ser agredido pelo padrasto. Eu, como mãe, fico muito feliz em ver o quanto meu filho está crescendo e se desenvolvendo neste grupo. Sou muito agradecida ao #RefazendoSonhos por ter dado essa oportunidade a ele”, compartilhou Andrea Santos.

Saiba mais – O Sonhos em movimento é composto por egressos do projeto #RefazendoSonhos. Surgiu logo após a conclusão da 1ª turma, no ano de 2017, quando os adolescentes que haviam concluído a formação resolveram “ficar”. A partir deste instigante desafio, a equipe local, devidamente alinhada à KNH - parceira financiadora - passou a pensar em desdobramentos/atividades que apontassem para a continuidade das ações presentes no objetivo do projeto, num ritmo de continuidade. Daí a ideia do “movimento”.

Hoje, além do Núcleo de Teatro do #RefazendoSonhos em Movimento, que conta hoje com 20 atores (18 adolescentes e 2 adultos) que se dividem entre ensaios semanais e apresentações nas escolas municipais do município, os adolescentes estão organizados em mais dois grupos: o Núcleo de Fantoches, voltado para crianças de 7 a 11 anos, com a representação em escolas municipais da história do livro Pipo e Fifi – história amplamente premiada e validada pelo Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, e o núcleo de Roda de Conversas, voltado para adolescentes e jovens. O grupo promove debates a partir do vídeo “Prevenção à violência Sexual”, produzido pelo Instituto Aliança, e realiza um serviço de  mapeamento de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual no município (entrevistas com serviços de atendimento do município, como o Conselho Tutelar, Secretaria da Educação, Secretaria de Saúde, entre outros). Com isso, colaboram com a atualização do Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual. 

Núcleo de Teatro Sonhos em Movimento - George Vladmir – Diretor. Atores: Irilene Sousa, Daniel Neres, Maria França, Hebert Paixão, Raiana Góes, Elizama Oliveira, Veronica Silva, Thairon Carvalho, Natália Brabec, Ana Paula Silva, Mayara Batista, Arlinda Santos, Juliane Rodrigues, Tatiane Santos, Blendo Lima, Gabriel Guarnieri, Matheus Damasceno, Vanessa Santos, Suelen Nascimento e Ueslei Oliveira.


O elenco em cenas finais do espetáculo reverbera o título “Até quando?”, convocando a plateia a refletir sobre a ruptura do silêncio que cerca as vítimas de violência sexual.


De pé, os atores provocam o público a participar da reflexão sobre o tema.


A atriz Maria Eduarda encerra o espetáculo grafitando em painel a pergunta-chave e título da peça: “Até Quando?”.

 
 
 
 

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