IA entrevista Elena Heredero Rodriguez

 
 



Elena Heredero Rodriguez.


 

A economista Elena Heredero coordena a aliança multissetorial NEO, dedicada a ampliar as oportunidades de emprego para jovens da América Latina e Caribe. Criada em 2012, NEO é uma iniciativa do BID – através de seu Fundo Multilateral de Investimento (FOMIN) e da LMK – e da International Youth Foundation (IYF). Entre seus parceiros, estão Arcos Dorados, Caterpillar Foundation, CEMEX, Fondation Forge, Microsoft, SESI e Walmart.

Elena vive em Washington DC (EUA), mas esteve no Brasil para discutir as bases da Aliança NEO Brasil, que iniciou suas atividades em agosto, sob a coordenação do Instituto Aliança.

 

 


 

IA - O que é a Iniciativa NEO e qual é a sua proposta para juventude mundial?

EH – NEO é uma iniciativa pioneira, na qual empresas, governos e sociedade civil trabalham juntos para melhorar as oportunidades de emprego de um milhão de jovens (sendo metade mulheres) na América Latina e Caribe, antes de 2022. Respondendo às demandas do mercado de trabalho e graças a um investimento de 137 milhões de dólares, 175.000 jovens de 12 países, incluindo o Brasil, já são parte de NEO.

Há uma urgência na América Latina e Caribe (ALC) – e também em nível mundial - de colocar o foco das políticas de emprego nos jovens vulneráveis com idade entre 15 e 29 anos. Em muitos países da região, a população jovem é maior que a adulta. Isso se constitui como uma enorme oportunidade. Por outro lado, um em cada cinco jovens não estuda nem trabalha e, além disso, 50% das empresas têm dificuldade de encontrar pessoal qualificado, como técnicos por exemplo.

Nossa proposta, portanto, é clara: se investirmos em educar, formar, orientar e preparar com êxito os jovens de hoje para os empregos de amanhã, as sociedades não apenas ganham em produtividade, mas também – e mais importante – em paz e coesão social. A ação deve ser coletiva, intersetorial e sistêmica, porque nenhum setor poderá resolver sozinho os problemas do desemprego juvenil e as lacunas da formação.

IA - Até o momento, qual é a contribuição real de NEO no que diz respeito à empregabilidade na ALC?

EH – Estamos muito felizes com os resultados de NEO até o momento: cerca de 65% dos jovens que se graduam nos cursos técnicos de curta duração ou superiores são contratados até seis meses depois da conclusão. E um em cada cinco dos jovens graduados nos cursos de formação vinculados ao NEO segue estudando. E, além deste dado quantitativo, uma das contribuições mais importantes que esperamos deixar como legado na região é a formação de alianças multissetoriais capazes de atuar com visão de longo prazo pela empregabilidade juvenil em seus países.

Em países menores que o Brasil, como o Panamá, por exemplo, NEO se tornou um espaço de diálogo e ação entre governo, empresários e organizações da sociedade civil. Por meio do trabalho conjunto, liderado por uma entidade reconhecida nacionalmente – o Conselho do Setor Privado para a Assistência Educacional  (COSPAE) – está se construindo vínculos de confiança, ingrediente fundamental para o trabalho em uma aliança. Barreiras e preconceitos que, muitas vezes, impedem a articulação de esforços e a elaboração de programas e políticas acertadas para os jovens também estão sendo superados neste processo.

IA - Das lições aprendidas na implementação do NEO nos 12 países da ALC, quais as mais importantes? A estruturação do NEO Brasil possui algum diferencial significativo em relação às Iniciativas NEO em outros países?

EH – Há muitas, mas vou falar de duas. A primeira é que, para funcionarem bem, essas alianças multissetoriais precisam de uma entidade coordenadora ou “medular”, capaz  de conduzir e estabelecer um plano de trabalho efetivo com governo, empresários e sociedade civil.

Do mesmo modo que o corpo tem uma medula espinhal que permite a movimentação coordenada de suas extremidades, a função dessa entidade é facilitar que cada ator cumpra sua parte sem que os jovens notem que há, efetivamente, várias entidades oferecendo serviços ao mesmo tempo. E ainda que tenhamos contado com entidades coordenadoras que não tinham a empregabilidade juvenil em sua missão, funciona melhor quando este tema compõe a agenda da organização. No caso de NEO Brasil, onde o Instituto Aliança será a entidade coordenadora, é  animador contar com uma organização experiente e com reconhecido prestígio na área.

A segunda lição é que é urgente integrar as competências socioemocionais aos planos de estudo das escolas e dos centros de formação profissional. Temos visto que as metodologias baseadas em vivências lúdicas e criativas engajam os jovens e os motiva a seguir estudando, evitando o abandono escolar. Professores e educadores formados com essas ferramentas têm à sua disposição técnicas pedagógicas muito efetivas. Em muitos países sem a experiência com o desenvolvimento das competências socioemocionais usamos o “Pasaporte para el Éxito”, publicação da International Youth Foundation. No Brasil, temos a sorte do Instituto Aliança e outras organizações contarem com metodologias aprovadas e efetivas nesta área.

Aliás, é uma força ter uma organização como o IA na coordenação de NEO Brasil. E também é um diferencial poder trabalhar, em Pernambuco, com o Porto Digital de Recife, focando esforços na formação de jovens para o setor de tecnologias da informação e economia criativa. Esta característica nenhum outro projeto NEO possui.

IA - Você poderia falar um pouco sobre as expectativas do BID para cada uma das três linhas de ação da NEO Brasil?

EH – A primeira linha é a articulação dos atores e programas a favor das políticas públicas de empregabilidade juvenil, da qual já falei. Ela depende do compromisso de cada um dos atores envolvidos na aliança em atuar unidos até o alcance das metas comuns. Aqui, é importante avançar em resultados concretos, para que os atores se sintam motivados a seguir trabalhando juntos.

A segunda linha tem a ver com o fortalecimento de serviços de orientação vocacional, tarefa essencial para assegurar que os jovens e suas famílias tenham a informação chave para tomar as melhores decisões sobre seu futuro profissional. A informação tem que estar em formato digital, acessível através de celular e em linguagem apropriada. Deve estar atualizada, conter oportunidades de formação, bolsas e emprego disponíveis, mostrar as profissionais e ocupações com maior potencial de crescimento e os melhores salários. Deve incluir, ainda, testes que permitam aos jovens reconhecer seus interesses, assim como seu potencial. E, por último, os jovens precisam de orientadores capacitados e prontos para guiá-los.

A terceira linha de ação tem a ver com o fortalecimento institucional para melhorar a qualidade dos serviços de formação e emprego e desenvolver inovações. Este é um componente que incluimos em todos os países porque sabemos que não existem muitos serviços especializados para jovens, especialmente para os vulneráveis. Para eles, NEO proporciona um padrão de qualidade e uma série de capacitações par que os centros de formação e emprego possam avaliar a si mesmos e adotar planos de melhora realistas e efetivos.

Sabemos que trabalhar nestas três linhas, simultaneamente, é desafiador, mas NEO Brasil contará com muitas lições aprendidas de outros países e com uma rede de instituições e equipes disposta a apoiá-los nesta aventura.

IA - Há perspectivas de ampliação da Aliança NEO para outros estados num futuro próximo?

EH – Definitivamente, sim! A vocação de NEO é dar escalar aos modelos de empregabilidade juvenil que funcionam melhor e promover impacto na política nacional. Para começar, no entanto, devemos dar passos seguros para firmar as bases da primeira etapa em Pernambuco. Temos que mostrar que, sim, é possível articular, melhorar a qualidade dos serviços e obter bons resultados. Se fizermos isso direito, com certeza, outros estados entrarão em contato para reproduzir a experiência de NEO Brasil.

IA - Inovação tem sido uma palavra obrigatória quando se fala em projetos de educação para a gerações contemporâneas. Mas o que será necessário manter para assegurarmos os resultados que queremos?

EH – É necessária uma visão compartilhada de mudança dos sistemas de empregabilidade  juvenil, que estabeleça claramente o que mobiliza cada um dos atores que integram o sistema, assim como as normas e políticas que o regem. E essa visão deve ser de longo prazo, ser uma política de estado, que permita alinhar interesses, capacidades e recursos com a finalidade de melhorar, de modo contínuo, o futuro dos jovens.

 
 
 
 

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